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Lições para o futuro Promover o Prazer de Descobrir, o Gosto de Aprender

Que "lições" podem resultar para os dias de hoje e, especialmente, para o futuro? Está muito difundida a ideia nos dias de hoje de que a inovação tecnológica corresponde essencialmente à adopção de tecnologias da informação, no contexto de uma "nova economia". Esta nova vaga de tecnologias pode hoje em dia parecer-nos quase miraculosa, mas no futuro pode vir a ser tão banal como são para nós hoje em dia a energia eléctrica ou as grandes auto-estradas. Embora isso não seja razão para se ser complacente ou menos voluntarioso nos esforços que se fazem para aplicar e disseminar as novas tecnologias da informação, o que é importante é perceber que a inovação tem um contexto muito mais vasto e profundo. O que se aprende, também, da exposição em curso na Cordoaria Nacional, intitulada "Engenho e Obra" é que a questão que se põe a Portugal não é tanto a de saber se tem inovado ou não. Portugal tem, de facto, inovado ao longo do tempo. A questão fundamental é a de saber se Portugal inova suficientemente depressa e com suficiente "amplitude e profundidade" para que o seu ritmo de crescimento económico aproxime o país dos padrões mais avançados.

Para isso, e para que o esforço de Portugal para inovar não fique "preso" de uma ou outra qualquer tecnologia específica - mesmo que sejam tão importantes como as tecnologias da informação - o que importa será promover o prazer de descobrir, o gosto de aprender, e a cultura de empreender e de assumir riscos (tema, aliás, que foi o foco do encontro no fim de Janeiro em Newark da PAPS, associação de estudantes portugueses pós-graduados nos Estados Unidos). Para que a inovação floresça é necessário um terreno fértil e sementes profícuas. A "fertilidade" depende do contexto institucional, isto é, do conjunto de incentivos que as pessoas e as empresas enfrentam. Esta fertilidade depende também do acesso a conhecimento técnico avançado e da base científica que permite interpretar e aplicar esse conhecimento. As "sementes" serão sempre as pessoas e também as empresas, que terão que ter conhecimento, capacidade e competência individual para assumirem as oportunidades que a fertilidade do terreno proporciona. Foi quando essas circunstâncias se conjugaram, esporadicamente, que Portugal inovou no passado: o desafio é torná-las sistemáticas e permanentes na sociedade portuguesa. 


 

[in Público de 03.02.2003]