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Portugal ainda aprendeu pouco de engenharia

Na área da ciência e da tecnologia Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer. São os especialista que o dizem. À pergunta «Engenharia e História: o que temos aprendido?», a resposta, segundo Mariano Gago, só pode ser uma: «muito pouco».

Encontrar respostas para a questão foi o que tentaram fazer ontem, na Cordoaria Nacional, em Lisboa, alguns entendidos na matéria. Ao longo das quase duas horas de «conversas cruzadas», moderadas pelo director do DN, Mário Bettencourt Resendes, trocaram-se pontos de vista sobre a engenharia que se fez, a que se faz e aquela que seria desejável fazer-se em Portugal.
Um passado recheado de dificuldades tem, segundo o ex-ministro da ciência, constituído um enorme obstáculo ao avanço tecnológico do País. «A história da engenharia e da ciência tem sido pautada por dificuldades humanas, materiais e mentais. Ocasionalmente, houve momentos de superação dessas dificuldades», explica Mariano Gago, ironizando: «Em Portugal há a dificuldade do acordeão _ quando se dá um passo para a frente, dão-se logo dois para trás.» Apesar das dificuldades, a engenharia portuguesa tem uma história para contar. A prova disso é a exposição «Engenho e Obra, Engenharia em Portugal no séc.XX», a decorrer até 2 de Março na Cordoaria.
Que «a engenharia tem uma história que merece ser contada», não duvida Brandão de Brito, um dos coordenadores do livro com o mesmo nome da exposição. Mas essa história que «começou agora a ser contada» poderá «ser frustrada» se a investigação não for considerada um desígnio nacional. Desígnio que «terá de mover um esforço colectivo, de entidades públicas e privadas». Mariano Gago aproveitou para criticar o facto de, em Portugal, se considerar que essa é uma responsabilidade apenas do privado. E deixou bem claro que «o avanço tecnológico e científico é do interesse público».
Trazendo uma visão histórica do tema, Fernando Rosas levantou uma pergunta pertinente: perante uma exposição que revela o que de melhor se fez em Portugal a nível da engenharia, porque é que não somos uma grande potência industrial? O historiador atribui a culpa às políticas económicas que «dá a ideia» terem sido as responsáveis por impedir que «boa parte da exposição não tenha resistido à integração na comunidade europeia».
Por seu lado, e elogiando não apenas a arte mas os seus protagonistas _ os engenheiros _, o presidente da Fundação Luso-Americana, Rui Machete, diz que o que mais o impressiona nestes profissionais é a sua orientação pragmática e o seu contributo para a nossa evolução histórica. «Os engenheiros preocupam-se com a resolução prática dos problemas. O que é de uma importância extrema na nossa cultura, basicamente teórica», diz Machete, para quem «uma das razões do nosso subdesenvolvimento é o resultado de não termos uma visão prática».

http://www.dn.lusomundo.net/noticia/mostra_noticia.asp?CodNoticia=84527&CodEdicao=575&CodAreaNoticia=2

Isaltina Padrão
[in Diário de Noticias de 21.01.2003]