«Cada um de nós está rodeado pelos princípios mais elementares da ciência tecnológica». Exemplo disso é o telemóvel. O perigo que se coloca é «que há pouca gente a dar por isso», alertou, ontem, Jorge Buesco, professor do Instituto Superior Técnico, durante um espaço de debate na Cordoaria Nacional, no âmbito da exposição «Engenho e Obra». As várias intervenções tiveram por base uma pergunta chave: «Como se pode promover a cultura científica?» A resposta é «muito simples», de acordo com Alexandre Quintanilha, professor do Instituto de Biologia Molecular e Celular, Universidade do Porto, e passa por «transmitir a ideia de que nem todas as visões que temos do mundo são equivalentes». Sendo a cultura científica uma cultura de dúvidas, o que se sabe hoje amanhã poderá ser ultrapassado por novos conhecimentos. No fundo a promoção da cultura científica passa por «desmistificar tudo isto», segundo o professor. E nesta procura, incessante, de tentar «romper o isolamento social da ciência», o cientista assume cada vez mais o papel de «apóstolo do tempo moderno», de divulgador científico. Neste âmbito, e no sentido de colmatar o perigo que constitui o público que se mostra «indiferente» a esta cultura, os próprios cientistas convenceram-se de que é importante sairem do seu ciclo e comunicarem para o resto da sociedade, «ou corre-se o risco de, daqui a 50 anos, as pessoas acreditarem que comunicam com outra, através do telemóvel, por uma espécie de espiritismo», ironiza Jorge Buesco. A exposição «Engenho e Obra», que decorre na Cordoaria Nacional é um exemplo dessa tentativa de alargar esta temática a um público mais alargado, esclarece. Esta mostra, que retrata a história da engenharia em Portugal, no século passado, do seu ensino e também da própria profissão de engenheiro, é reforçada por um ciclo de «conversas cruzadas», com o objectivo de estudar o desenvolvimento da engenharia nacional com base em diferentes perspectivas. No fim do encontro ficou a certeza de que informar o público, esclarecê-lo e torná-lo mais interventivo não deve ser um luxo, mas sim um direito a que se deve dar prioridade. Esta «é uma responsabilidade que deve ser exigida ao cientista», de acordo com Rosália Vargas, directora da agência Ciência Viva.