Ocupando todo o espaço útil da Cordoaria Nacional, em Lisboa, a exposição "Engenho e obra" vai mostrar, a partir de 8 de Janeiro, as maiores realizações da engenharia portuguesa ao longo do século passado. O PÚBLICO antecipa a visita e destaca alguns exemplos. Quando, a partir de Janeiro, passar em frente à Cordoaria Nacional, em Lisboa, e se deparar com uma gigantesca locomotiva do início do século passado ou com máquinas industriais de grande porte, não se assuste. É o mote para a exposição "Engenho e obra" - que ocupará três mil metros quadrados, todo o espaço útil do edifício -, dedicada às maiores realizações da engenharia em Portugal, durante o século XX.
O objectivo desta mostra, apresentada à imprensa na semana passada, é "mostrar aspectos signicativos da ''arte do engenheiro'' com impacto na sociedade portuguesa", conforme refere o catálogo. A historiadora Maria Fernanda Rollo disse ao PÚBLICO que "Engenho e Obra" é "fruto da vontade de um grupo de pessoas em dar a conhecer o passado, para compreendermos como é Portugal hoje". Esta investigadora faz parte do grupo de cerca de 120 especialistas (economistas, engenheiros, historiadores, sociólogos) que se juntaram para mostrar como as grandes obras da engenharia mudaram a paisagem e a sociedade portuguesas.
O projecto "Engenho e Obra" passará pela exposição na Cordoaria, mas também por um conjunto de publicações "on-line" e multimédia. Em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, será programado um ciclo dedicado ao tema e produzido um documentário, com argumento da jornalista Diana Andringa, sobre as grandes obras da engenharia em Portugal no século XX.
Os conteúdos desenvolvidos ao longo da exposição terão em vista a criação de um projecto museológico nacional de tecnologias e inovação.
A engenharia tem sido alvo de grandes exposições temáticas nos mais importantes museus do mundo. Em Nova Iorque, no Museu de Arte Moderna, em 1964, com a exposição "Twentieth Century Engineering", em Paris, no Centro Pompidou (1978), em Londres, no Royal College of Art (1987) ou, mais recentemente, em Paris, de novo no Pompidou, em 1997, realizaram-se exposições dedicadas aos grandes nomes e obras da engenharia.
Rumo ao futuro
"Engenho e Obra" estende-se desde os primórdios da engenharia até à era da informação e comunicação. Monarquia e primeira República, Implantação do Estado Novo, Viragem da Guerra, Anos 50 e 60, e 25 de Abril e Democracia são áreas de contexto com que o visitante se pode deparar. As 21 zonas temáticas integram as grandes obras públicas do século XX.
Entra-se num espaço em que é apresentada a informação necessária para avançar, rumo ao futuro. Depois, os visitantes são conduzidos por portos, barragens, pontes, caminhos de ferro, complexos urbanos e industriais de referência. Podem gerir o nível das águas do Alqueva, combater fogos florestais, distribuir a electricidade por uma aldeia, penetrar no interior de uma barragem e controlar as suas comportas, viajar no tempo ao complexo da CUF, no Barreiro, ou explorar uma mina.
"Todos os núcleos, além do rigor científico, foram também pensados como espaço cénico, recriando alguns ambientes", diz o catálogo. Estarão em exibição fotografias, filmes, maquetas, jogos didácticos e multimédia.
"Engenho e Obra", a história da engenharia em Portugal contada numa exposição, não se recomenda apenas a engenheiros. Os organizadores pretendem chamar todos os tipos de públicos, jovens, adultos, estudantes e profissionais de todos os sectores. Porque, como diz no catálogo o historiador Brandão de Brito, comissário da exposição, "um país que não tem memória perde o sentido da História."
http://jornal.publico.pt/publico
/2002/12/16/Cultura/C01.html